Investigamos a fundo as origens do movimento, a utilização da palavra e a definição sobre o que é streetwear.
Eu começo esse texto com uma pergunta: O que é streetwear para você?
Certamente cada um de vocês que estiver lendo agora vai trazer uma resposta diferente, isso tem um porque. Porque o streetwear é um estilo abrangente que vai muito além das roupas, por isso, o mesmo é tão difícil de ser definido. Para entender esse porque precisamos começar com a origem do movimento. Ela não é creditada especificamente a um local ou pessoa, pois em diversas partes ao redor do mundo surgiram pessoas fazendo coisas na mesma pegada. Porém existe um denominador comum em relação a isso.
O surgimento do streetwear
O movimento teve origem entre as décadas de 1970 e 1980 na Califórnia. Nessa época a ensolarada cidade de Los Angeles era o local perfeito para os surfistas por conta do seu clima e as incríveis ondas das praias de Santa Monica, Venice e Malibu. A cultura dos caras ia muito além do esporte. Movidos pelo faça você mesmo (DIY), termo usado para definir quem põe a mão na massa, eles tinham ideias que iam além dos conceitos pré estabelecidos na época.
Um desses caras era Shawn Stussy, um famoso shaper da cena local. Além de fabricar pranchas sob encomenda ele teve a ideia de estampar camisetas com sua assinatura, que havia sido “emprestada” de seu tio. Surgia ali a Stussy, marca pioneira do gênero, que vendia muito mais do que roupas. Na verdade um estilo de vida.
“Todo mundo fala que minha marca é de surfwear, de moda urbana ou de surf urbano. Isso são apenas nomes. Eu não rotulo ela e não rotulo de propósito. Eu faço roupas básicas que podem ser usadas tanto por uma criança de 10 anos quanto pelo meu pai.” disse Shawn Stussy, em entrevista ao jornal NY Times, em 1992.
Na mesma época os jovens surfistas Jay Adams, Stacy Peralta e Tony Alva, estavam cansados de esperar boas ondas. Para driblar o tédio, eles pegaram uma pranchinha de madeira, colocaram dois trucks de ferro com duas rodinhas de patins cada. Pronto, teve origem ali o skate, esporte que também imprimiu grande influência dentro do streetwear. A atitude, o estilo de vida arruaceiro e o estilo “largado” de se vestir dos caras, principalmente de Adams, criou o visual característico e transgressivo dos skatistas.
O streetwear originalmente surgiu da união de sub culturas, que de início englobavam surf e skate e posteriormente se mesclaram com os estilos musicais: punk, new wave e hip hop.
Tá, mas quando a palavra “streetwear” passou a ser usada oficialmente para definir o estilo de rua?
A primeira geração do movimento rolou mais como uma forma de experimentação, na qual jovens artistas, como Keith Haring, músicos, como o DJ japonês, Hiroshi Fujiwara, e donos de marcas, como Shawn Stussy e Rick Klotz, da Freshjive, usavam como plataforma para expressar suas ideias. Foi na segunda geração (de 1990 a 2000) do streetwear que as coisas começaram a mudar.
No início dos anos 1990, o caminho já havia sido pavimentado nos Estados Unidos, pela Stussy e a Freshjive (1989), e no Japão, pela Hysteric Glamour (1984). Essas marcas tinham um único objetivo: fazer roupas para pessoas que queriam algo diferente.
Caras como Erik Brunetti, dono da FUCT (1990), e Russ Karablin, dono da SSUR (1990), entram em cena e começam a usar suas marcas como plataforma para abordar temas mais cascudos como política, sexo e drogas. Indo na contramão das “good vibes” de seus antecessores. Erik Bonerz e Adam Silverman, fundadores da XLARGE (1991), aproveitaram o gancho a influência de seu amigo integrante do grupo Beastie Boys, Mike D, para entrarem no mercado também. Pegando carona na ideia de Shawn, que redesenhou o logo da Chanel com dois “SS” da Stussy, eles começaram a parodiar marcas high fashion como forma de tirar sarro da moda tradicional.
Nomes como Supreme (1994), 10 Deep (1995), Staple (1997) e ALIFE (1999) iniciaram suas atividades nos Estados Unidos. Em paralelo, no Japão, surgiam, BAPE (1993), UNDERCOVER (1993), NEIGHBORHOOD (1994) e WTAPS (1996).
Até esse ponto a palavra streetwear ainda não era usada para se referir a moda urbana. Apesar de ser consenso entre todos da cena que essa era sua definição. A origem do termo é incerta mas muitos acreditam que a clássica marca de skate Vision Streetwear teve papel importante nisso. Tanto pela atitude, quanto pelo nome, que de certa forma definia o estilo rueiro de se vestir.
Foi na terceira geração (de 2000 a 2010) que o termo passou a ser usado em larga escala por veículos e marcas do meio. “Eu acho que o streetwear se tornou uma terminologia lá para 2002, por aí” comentou Jeff Staple, designer e fundador da Staple, em entrevista ao portal Complex.
O que é streetwear então?
Atualmente o sentido da palavra está um pouco distante de suas origens. Para mim o streetwear sempre foi e será uma cultura, que é moldada de acordo com as pessoas inseridas nela e suas histórias. Acho que não cabe ao estilo rotular formas de se vestir ou marcas para se usar pois não se trata apenas de roupas, tênis, Supreme, BAPE, etc.
Se trata de pessoas, histórias de vida, da forma que você se sente e se expressa. O streetwear é um estilo de vida que reflete no que você usa, seja através de roupas de marca ou de brechó. Acho que “ser” vem antes de “ter”, por isso, sugiro que sejamos mais envolvidos intelectualmente com a cultura e tenhamos menos marcas e rótulos como prioridades.