Mais um fim de semana passou e com ele dois lançamentos de peso, o Nike Air Presto x Off-White, representando o time dos sneakers, e a collab adidas Originals x BAPE, fazendo a vez da moda urbana.
Como observador, comecei a refletir sobre como atualmente as cenas acabaram perdendo um pouco o sentido.
Alguns anos atrás, entre 2011 e 2012, entrei de cabeça na cultura sneakerhead de São Paulo. Participava de grupos e ia em eventos relacionados ao meio. Era bem foda ver que a maioria que estava ali, e não eram muitos, estava reunida por algo em comum, como a paixão por tênis e de quebra por roupas também. As conversas e discussões eram bem interessantes e enriqueciam bastante quem estava incluso na cena.
Porém, nos dias de hoje, eu não vejo o mesmo acontecendo. Tudo bem, são gerações e influencias diferentes, mas acho que uma coisa precisa ser comum entre todos os amantes de algo, que é ter paixão por aquilo que os une. O amor por algo é sempre maior do que qualquer outra coisa. Talvez eu esteja sendo muito saudosista em relação a isso, mas hoje não vejo esse amor na hora das pessoas comprarem um tênis ou uma roupa. Reforço que não estou generalizando! Mas, acho que esse sentido se perdeu quando as pessoas descobriram que poderiam ganhar algum dinheiro em cima dos produtos mais desejados.
A questão atual é de quem atrai mais os holofotes. Se o cara consegue 20 pares do Presto x Off-White para revender, pronto! Ele tira uma foto achando o máximo por conta disso. Por outro lado, por exemplo, 20 caras que queriam poder sair usando seus pares ficaram sem. Não acho legal esse tipo de comportamento, ele não enriquece a cena em nada.
“Parece que há uma espécie de competição de ostentação, na qual as pessoas estão mais preocupadas com o status, ao conseguirem 10 pares para revender a preços absurdos” Cássio Medici, fundador do Streetwear Brasil
Mas antes que venham me tacar 50 pedras, vou falar sobre os resellers (revendedores).
Eu entendo bem o lado deles, acho legítimo, principalmente os que vieram primeiro, como a Pinneaple Co (SP) ou a Meck Store (RJ), por exemplo, pois souberam aproveitar que o mercado estava crescendo e investiram pesado nisso. Isso já rola há muito mais tempo e em maior escala no mercado internacional e vem se tornando uma tendência global. O que pega, na minha opinião, são pessoas que começam a conhecer o meio agora e por terem um poder aquisitivo melhor, enxergam nessa atividade uma oportunidade para sair lucrando em cima dos outros, pessoas que realmente estão interessadas em ter e usar os produtos.
A partir do momento que as pessoas passaram a priorizar o lucro, ao revender os produtos, o verdadeiro sentido de pertencer a este meio ficou de lado. Afinal, estamos reunidos para debatermos, entendermos, usarmos nossos tênis e nossas roupas ou para vivermos apenas em torno do mercado do consumo imediato e da revenda?
E se acham que escrevi esse texto porque sou um desses que não consegue comprar as coisas, garanto que não me encontrão pegando senha ou em alguma fila, seja ela de tênis ou de roupas.