Dia da Terra e estou aqui para refletir sobre nosso impacto quanto consumidores em relação ao meio em que vivemos. Para muitos a data pode ser apenas mais uma dentro do calendário mundial, mas é extremamente importante e serve para abrirmos os olhos em relação ao consumo e as consequências que traz através de sua cadeia de produção.
Legal! Mas o que o hype e o streetwear tem a ver com isso?
Desculpa amigo, mas sinto em ter dizer que ambos tem tudo a ver com o assunto. Não apenas pelo lado negativo, o qual afeta diretamente o meio ambiente por conta dos excedentes da produção das fábricas, comercialização de produtos em larga escala, utilização de processos de tingimento, etc. Mas também pelo lado positivo, liderado pela reutilização de peças, através dos brechós, e por marcas que apostam em tecidos sustentáveis e produções artesanais.
Antes disso, temos que deixar claro que a distorção e o uso inadequado da palavra hype no Brasil fez com que muita gente que acabou conhecendo o movimento agora achasse que o meio só se trata de produtos limitados, exclusivos e caros. Isso é uma grande bobagem que foi disseminada por pessoas que não conhecem sobre o que estão falando e que acabaram vendendo tal fato como verdade para milhares de crianças e adolescentes que tiveram seus primeiros contatos com a vertente.
Esse tipo de consumo desenfreado, alimentado por essa nova geração de influenciadores, não é saudável, não apenas pelo lado financeiro mas também pelo lado cultural e social. Se você pensar de uma forma macro tudo isso influencia diretamente no meio ambiente sim. Quanto maior a demanda, maior a produção. Vamos pegar os tênis como exemplo, vocês já repararam quantos tênis são lançados por semana? É um verdadeiro absurdo! Pior do que isso é a galera que compra todo santo lançamento para não ficar de fora. Amigo você está contribuindo para o ciclo da indústria e não adianta ter tênis foda se daqui 20 ou 30 anos você não tiver onde usar eles.
As roupas seguem o mesmo caminho, sendo guiadas pelas grandes redes fast fashion que semanalmente trocam suas coleções e acabam descartando milhões de peças e tecidos. Segundo o relatório “A new textiles economy: Redesigning fashion’s future”, divulgado em 2017, pela fundação Ellen MacArthur com apoio da estilista Stella McCartney, a cada segundo, o equivalente a um caminhão de lixo cheio de sobras de tecido é queimado ou descartado em aterros sanitários. São 500 bilhões de dólares jogados fora por ano com roupas que foram pouquíssimo usadas e que quase nunca são recicladas!
Outro problema grave é a produção em escala global, na qual as roupas são desenhadas e confeccionadas em países diferentes. Isso faz com que a indústria da moda libere 1,2 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa por ano, valor que supera a aviação comercial e a indústria naval juntas.
A questão levantada pelo estudo preocupa bastante e uma solução seria mudar o mindset dos fabricantes, os obrigando a pensarem que roupas não são descartáveis. O foco seria apostar em peças que durem mais tempo e que de alguma forma possam ser recicladas, alugadas ou revendidas. Mas não vamos jogar a culpa somente para os fabricantes, nós como consumidores temos diversas opções que podemos seguir hoje em dia.
Uma dessas soluções que vem funcionando bem são os brechós. As peças vintage nunca estiveram tão em alta e graças a elas um novo olhar foi dado para coisas usadas que muitas vezes virariam lixo. Eu mesmo já tive a oportunidade de visitar diversos brechós nos Estados Unidos e tem muita coisa boa, com preço legal e pouco usada. Outra alternativa é comprar de marcas que se preocupam com a produção de suas peças, tecidos e que fazem coisas com longo prazo de duração. Uma terceira opção é doar. Hoje a galera só pensa em revender. Ok! Quer fazer uma grana e tal, eu entendo, mas você já parou para pensar quanta gente precisa de roupa? Fazer uma ação como essa é um ato de civilidade.
Todo esse processo requer amadurecimento e consciência de que não é porque estamos de passagem por este mundo que não devemos nos preocupar com o ambiente onde vivemos. Esse tipo de coisa talvez ainda não seja a preocupação da molecada que está entrando no streetwear agora mas um dia essa conta virá e não só para vocês, para todos nós.
Por isso, sugiro que sejamos mais conscientes na hora de consumir, gastando com coisas que realmente serão úteis no nosso dia a dia e que irão durar por um bom tempo.