Hoje vamos falar sobre a valorização das marcas da cena nacional, assunto que acaba vindo à tona semanalmente de forma direta ou indireta.
Para início de conversa, quem me acompanha nesses quase sete anos de SWBR sabe que eu sou um dos caras que mais dá suporte e apoio ao trabalho das marcas nacionais. Muita gente que vê de fora acha que tudo é lindo e maravilhoso, um verdadeiro mundo de magia composto por peças descoladas, lookbooks e afins. Se engana se você pensa assim, porque na verdade é tudo resultado de muito esforço e dedicação, sem contar a superação das limitações, orçamentos e dos percalços. Tudo isso para entregar um produto com uma narrativa interessante, com qualidade e preços finais justos.
Essa ideia de quem tem marca é rico e famoso é a maior furada. Existem sim, pessoas que conseguem alcançar um nível diferenciado e acabando vivendo de suas marcas, mas isso não é uma regra, e sim uma exceção, ainda mais falando de marcas independentes.
Exatamente por saber o que rola nos bastidores resolvi escrever esse texto.
Isso começa por esse lance de desmerecer o que é nacional. Dizer que tudo que é feito no Brasil tem qualidade inferior ou então que está com preços acima dos valores de mercado são duas paradas que precisam ser bem esclarecidas, pois não refletem nenhum pouco a realidade do que eu vejo por aí. Geralmente, quem fala isso não faz a mínima ideia do que rola por trás de ter uma marca.
Quem tem uma marca de roupa independente no Brasil é um verdadeiro guerreiro, pois tem de lutar diariamente contra várias adversidades para que o sonho continue em pé e não morra. Além das dificuldades de firmar o negócio dentro do cenário empresarial, existe ainda todo o processo de pensar nos produtos, desenvolver desenhos e estampas, criar peças-piloto, fabricar, ver se chegaram no resultado que queriam e por último, bem por último, colocar tudo a venda.
A grande maioria das marcas nacionais vende uma coleção para fazer a outra e digo isso com conhecimento de causa pois acompanho o cenário há bastante tempo. O custo de produção é alto e o equilíbrio entre qualidade e valor final do produto é algo bem difícil de se chegar. Acima de tudo, o trabalho é fruto de muito trampo e persistência. É fácil para o consumidor, lá no final da cadeia, apontar as falhas e reclamar sobre o que está sendo oferecido, sendo que em muitas vezes eles costumam pagar bem mais caro em marcas gringas, que possuem qualidade inferior ao que é ofertado por aqui, somente por carregarem estampa ou etiqueta de nome. Rola uma hipocrisia, já que tem coisa ruim e inferior em qualquer lugar do mundo, inclusive nos Estados Unidos, Japão, Europa, etc.
É preciso entender que para se chegar em um produto final rolam várias etapas e que todo esse processo faz parte do trabalho das marcas. Responda essa pergunta: Quanto vale seu trabalho? Difícil de dizer né. Pois é, essa é uma barreira complicada para grande parte das marcas, pois o produto final vem embutido com uma série de conceitos, valores e impostos. Não dá para ser inocente e achar que todo mundo só está querendo lucrar em cima do cliente, pelo contrário, eu vejo que as marcas querem cada vez mais fazer coisas legais para os consumidores, o dinheiro, muitas vezes, é consequência de todo esse trabalho. Você paga a cadeia por trás da fabricação daquilo e é assim que funciona no mundo todo.
Também existem marcas que focam em produtos refinados feitos com matérias-primas e tecidos de primeira. Geralmente, essas marcas também priorizam a fabricação artesanal e tudo isso resulta em peças duráveis e de qualidade superior, bem diferente do modelo proposto pelas fast fashion onde as peças são descartáveis. Mas essa escolha também acarreta em mais custos.
É preciso identificar essas diferenças antes de sair colocando todo mundo no mesmo balaio e dizendo que marca nacional é isso ou aquilo.
Continuando na questão de valorizar o que é nacional, isso não quer dizer necessariamente que você é obrigado a comprar o produto da marca, embora isso possa acabar sendo a consequência final do processo. Conhecer as marcas, ler sobre seus lançamentos, descobrir mais sobre suas origens, entender um pouco como funciona tudo isso que chamamos de streetwear, essas coisas também fazem parte de valorizar o que temos por aqui.
“Encerro dizendo que não adianta as marcas fazerem produtos de qualidade, os fotógrafos clicarem lookbooks diferentes e os blogs contarem histórias legais por trás cena, se o consumidor final só estiver focado no que os gringos estão fazendo.”