O streetwear morreu?

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Mural desenhado pelo artista urbano Sever

Preparem o caixão, as velas e o funeral. O streetwear morreu! Isso segundo as palavras do atual diretor criativo da Dior, Kim Jones.

Não estou tirando o mérito e o conhecimento de Jones, afinal o cara figura entre as marcas de luxo a mais tempo do que eu escrevo sobre moda urbana. Jones é considerado pioneiro na junção do high fashion com streetwear. Só para lembrar, ele foi o responsável pela parceria mais comentada de todos os tempos, da Supreme com a Louis Vuitton.

Em depoimento recente à revista Highsnobiety, ele se diz entediado com uso do termo streetwear. Segundo ele, a expressão reflete todo tipo de roupa que se usa na rua.

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Highsnobiety/Reprodução

“Estou entediado com o uso do termo ‘streetwear’. Você usa as roupas na rua então logo tudo é streetwear. Você poder usar uma peça de alta costura, fora das passarelas, e dessa forma transformar ela em algo que se encaixe no estilo.”

Considerando as palavras dele, se você estiver usando um tênis da Balenciaga, um casaco da Dior ou uma jaqueta da Chanel, isso pode ser considerado moda urbana, certo? Levando em consideração apenas o sentido literal da palavra, realmente faz sentido, mas se formos mais a fundo no legado e no significado do streetwear dentro da cultura urbana, aí já é desmerecer o que o estilo conquistou ao longo de três décadas.

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Eva Al Desnudo /Reprodução

Eu discordo dessa afirmação e explico o porque.

O streetwear surgiu de forma subversiva nos anos 80, se consolidando como um estilo alternativo na década seguinte. A moda tradicional sempre foi composta por grandes marcas de luxo e tudo que não se encaixava na vertente não pertencia à esse meio. Portanto, a moda urbana sempre foi deixada de lado dentro desse universo.

Justamente por conta disso as marcas do estilo sempre bateram de frente com o que a moda transmitia. Diversas delas começaram suas coleções copiando e reinterpretando os logos das gigantes da moda. Inclusive, muitas dessas marcas de luxo acabaram entrando com ações na justiça contra cópias que infringiam suas patentes. Essa atitude de reinterpretar os logos era uma forma de tirar sarro e questionar o porque dessas grandes marcas serem tão “superiores”.

Eu já comentava sobre essa possível união, entre streetwear e high fashion, há quatro anos atrás. O que eu previa na época acabou se confirmando.

É interessante ver como o jogo virou recentemente. As marcas fashion foram obrigadas a aceitar que o streetwear cresceu e que com ele veio uma grande fatia de mercado. A real é que a moda tradicional é um meio bem saturado, então trazer o frescor e a atitude do estilo caiu como uma luva atualmente. Afinal, novidade vende e cada vez mais tem gente com grana disposta a gastar com isso, principalmente o público mais jovem.

Levando em consideração esses pontos, para mim, o que chamam de streetwear atualmente não é o estilo original do movimento, que teve início com caras como Shawn Stussy, Erik Brunetti, Rob Cristofaro, entre outros.

“O que estamos vendo é o mercado de luxo se aproveitando dessa fatia, porque agora é cool usar moletom com touca, camiseta extra grande, calça larga e tênis gordão.”

Essa pegada desconstruidona que essas marcas estão adotando, não me convence. Talvez daqui a cinco anos ou mais tudo isso deixe de ser legal e a moda urbana recupere sua essência, ou não também. Por isso, acendam suas velas e façam suas preces pois o streetwear ‘OG’ foi morto e enterrado pelas grandes marcas de luxo.

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