Rolou semana passada o primeiro desfile de Virgil Abloh na Louis Vuitton. Para promover o acontecimento, Virgil enviou presentes da marca para skatistas profissionais. Ao ver caras como Paul Rodriguez e Lucien Clarke usando as roupas da marca surgiram alguns questionamentos na minha cabeça. Será que o skate vai se render as marcas de luxo em 2019? O estilo de vestir dos skatistas vai ser tornar uma variação descolada do famoso engomadinho?
Antes de responder essas perguntas precisamos analisar e entender o porque chegamos nesse ponto.
Não é novidade as marcas high fashion estarem forçando a barra para captar clientes e surfar na onda da cultura de rua. Há décadas elas bebem na fonte dos skatistas, seja no estilo de usar as roupas ou nos tipos de tênis usados na prática do esporte. O problema é que essa apropriação nunca é admitida pelas mesmas, o que acaba reforçando a falta de envolvimento real com a cultura urbana e que esse tipo de conduta visa somente uma coisa, o lucro.
De uns cinco anos pra cá isso tem se tornado mais evidente. Me lembro em 2015 ter escrito sobre a nova marca do diretor artístico da Moncler, o italiano Francesco Ragazzi, a Palm Angels. Ragazzi já tinha enxergado que o skate poderia ser a conexão perfeita para atrair clientes mais jovens e de quebra renovar a cara das marcas de luxo. Esses consumidores iriam apenas ‘emular’ a ideia de ser e parecer um skatista, já que os verdadeiros praticantes do esporte não estão nenhum pouco conectados a esse perfil elitista.
No ano seguinte veio a febre em torno da Thrasher Magazine, na qual a camiseta da publicação americana de skate virou uma verdadeira febre entre fashionistas. Na época, o editor da revista, Jake Phelps, comentou em entrevista ao portal Hypebeast que se preocupava com celebridades e pessoas não ligadas ao skate usando a peça, afinal era apenas uma forma de parecer cool e de certa forma pertencer ao meio. Coisas que não faziam nenhum sentido aos olhos da comunidade dos skatistas.
Em 2017, BOOM! Supreme e Louis Vuitton lançaram a parceria mais improvável até então. Pela primeira vez uma marca de skate alternativa, ícone da moda urbana atual, colaborava com uma tradicional marca francesa de luxo. A colisão entre esses dois mundos foi bem forte. De um lado skatistas, que disseram que a Supreme tinha se vendido, o que não pode ser considerado mentira já que a marca sempre se posicionou contra o luxo, inclusive a mesma até já havia copiado a LV sem autorização. De outro, os endinheirados consumidores da Louis Vuitton, que não conseguiam entender o porque da LV colaborar com uma marca ligada ao skate e a juventude.
Se o movimento vinha em uma crescente, em 2018 ele alcançou seu ápice. Isso se deve grande parte a ascensão de Virgil Abloh a diretor criativo da Louis Vuitton, o que estreitou ainda mais os laços do high fashion com a rua. Um cara vindo do streetwear agora com um cargo importante dentro de uma grande marca de luxo abriu os horizontes. Logo outras marcas começaram a enxergar que para se renovar era preciso criar desejo entre esses novos consumidores e qual era a forma mais simples de fazer isso? Colaborar. A Versace foi uma das que aproveitou o gancho para lançar parceria com a importante loja/marca nova-iorquina, KITH.
Puxando para o lado do skate novamente, outra parceria que deu o que falar em 2018, foi entre a Palace e a Polo Ralph Lauren. Com a onda vintage em evidência, graças a loja americana Round Two e seu cofundador Sean Wotherspoon, marcas como Guess, Tommy Hilfiger e Polo Ralph Lauren, caíram no gosto dos consumidores novamente. Esse timing foi perfeito para que a essa colab, talvez meio nonsense a uns cinco anos atrás, se encaixasse como uma luva nesse cenário.
Mais uma vez ficou evidente a dependência que as marcas de luxo estão tendo com o streetwear, principalmente o skate. Já para as companhias de skate houve a oportunidade de expandir seus leques e alcançarem um público maior. Mas será que isso é bom? Para mim esse relacionamento entre skate e luxo se distancia do esporte que conheci nos anos 90.
Sempre vi o estilo de vestir dos skatistas como algo que representa atitude, rebeldia, transgressão. Era essência e estilo acima de qualquer marca. Meião na canela, bermuda rasgada, colete jeans com patches de bandas, tênis gordões, calças XXL com a cueca aparecendo, tudo isso não tinha apenas impacto visual, eram características pertinentes a quem praticava o esporte. Eu sei, os tempos mudaram, mas o estilo que essas marcas de luxo querem adaptar e vender como cool acaba soando forçado demais para mim.
Seguindo a tendência, é bem possível que em 2019 mais colabs entre marcas de luxo e de skate se concretizem. Espero que o estilo dos skatistas não seja elitizado e que não transforme a nova geração do esporte em uma variação descolada do famoso engomadinho.
Até mais!
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