O show tem que continuar, mas sem o streetwear

Neste fim de semana a 47ª edição do SPFW ficou marcada não pelos tradicionais desfiles de marcas de nome, mas pelo descaso em relação a morte do modelo Tales Newton Gomes Alvarenga Soares, conhecido como Tales Cotta, que sofreu um mal súbito enquanto desfilava para a marca Ocksa e, infelizmente, não resistiu e faleceu.

Alguns dizem que o fato ocorreu ali mesmo durante o desfile e que a organização do SPFW teria colocado panos quentes na situação dizendo que o mesmo havia convulsionado mas passava bem. Esse caso trágico mostra que definitivamente os padrões cultuados por essa “instituição da moda”, precisam ser revistos e repensados. O meio da moda sempre foi conhecido pelo glamour e pela beleza, mas muita coisa acontece por trás das cortinas e nem sempre ganha a repercussão que deveria, afinal o show sempre tem que continuar, não é mesmo?

Um modelo morrer no desfile e o mesmo ser reiniciado, orientado pela organização do SPFW como se nada tivesse acontecido, é de uma falta de empatia e amor ao próximo sem igual. E isso mostra a verdadeira essência de eventos como o SPFW e os demais, que é perpetuar os padrões tradicionais da moda, exaltar os luxos dos grandes players do meio e clicar os looks bizarros proporcionados pelos ‘peacocks’ (termo usado para definir pessoas que se vestem como “pavões”, somente para chamar a atenção). Aproveito para fazer um link com algo que vem acontecendo nas últimas três edições do evento, a participação direta e indiretamente de marcas nacionais independentes de streetwear.

+ O Hype e consumo excessivo de coisas que não precisamos

Para muitos designers e donos dessas marcas ter um espaço dentro do SPFW, nem que seja o menor possível, é uma conquista e tanto. Não tiro o mérito e a vontade dessa galera de querer e conseguir chegar lá, vocês merecem isso e muito mais. Porém, não temos que ser inocentes e achar que de repente os caras se interessaram pelo que está rolando no meio alternativo. O interesse nessa busca visa somente o lucro e a ideia de passar uma imagem engajada e envolvida.

Vocês acham mesmo que o público elitista do SPFW está afim de discutir racismo, feminismo, minorias, violência, empatia e política?

Eu acho que não. Por isso, exalto nossa importância como produtores de conteúdo, marcas independentes e consumidores de moda urbana. O streetwear é feito por nós e pela nossa liberdade de questionar, enfrentar e trazer assuntos relevantes e pertinentes para discussão. Afinal, nos identificamos com esse meio justamente por ir contra o senso comum. O estilo não pode ser considerado apenas uma parada ‘cool’ e sem sentido.

Nosso papel vai muito além disso, batendo de frente com o convencional, quebrando estruturas estabelecidas, repensando coisas óbvias, tudo isso para mostrar para essa galera que não precisamos da aprovação deles e, sim, que eles é que precisam entender o que realmente se passa dentro do streetwear.

+ Por favor, pare de se vestir igual a todo mundo!

Não sei se o show irá continuar como sempre foi ou se teremos alguma mudança, mas espero que o episódio de Tales não tenha sido em vão. Espero também que nós como amantes do streetwear continuemos expondo nossos ideais e questionamentos, fazendo as pessoas refletirem sobre o que realmente importa em suas vidas e comunidades.

Nosso fashion week acontece diariamente e não uma vez por ano.

Descanse em paz Tales Cotta.

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