Em pleno mês da saúde mental não podemos deixar de trazer esse assunto à tona para o meio no qual estamos inseridos. Criado em 1949, pela organização Mental Health America, nos Estados Unidos, o mês de maio inclui diversas atividades, guias e palestras, afim de discutir problemas e soluções relacionadas a saúde mental das pessoas.
Esse tema nunca esteve tão em alta e não é a toa que se tornou um dos principais assuntos no mundo atualmente. A competitividade, a busca de padrões estéticos impostos pela sociedade e a exaltação de vidas “perfeitas”, onde a grama do vizinho sempre parece ser mais verde que a nossa, contribuíram para que problemas dessa origem afetassem cada vez mais pessoas.
Tá, mas onde a saúde mental entra dentro do streetwear? Vem comigo que eu te mostro.
O streetwear no Brasil tem tomado proporções cada vez maiores alcançando principalmente crianças e adolescentes de 13 a 18 anos. Apesar de ser legal ver esse movimento sendo renovado por uma nova geração, existem consequências negativas relacionadas a isso.
O primeiro fator, o qual considero o mais perigoso, é que o lifestyle do streetwear e do tal ‘hype’, está sendo confundido com consumo exagerado e ostentação. Aquela ideia de que para pertencer ao meio você tem que ter isso ou usar aquilo. Isso se deve a uma nova leva de influenciadores que ganharam notoriedade, mas que no fundo não estão nem um pouco preocupados com o que seus discursos e ações podem impactar naqueles que os seguem. A idolatria por esse perfil de pessoas é algo bem complicado pois tudo que os mesmos propagam acaba virando verdade, quando no fundo está bem distante disso.
A moda urbana tem sido “vendida” por essa galera como algo que está relacionado apenas a certas marcas e pessoas de certo nível social. Isso é um absurdo total e mostra que, apesar de estarem antenados nos assuntos mais atuais, eles não fazem nenhuma ideia do que realmente se trata estar inserido dentro de uma cultura que abrange muito mais do que hype e revenda. O trato com os assuntos do meio é sempre de modo superficial, reforçando ainda mais o comportamento de exclusão e competição, seja por nível social ou poder aquisitivo.
E isso gera consequências graves para quem se espelha nesses “ídolos”. Se nem eu, dentro dos meus 30 e poucos, consigo lidar com toda essa informação sobre lançamentos, com fotos de pessoas das quais queria ter o mesmo estilo e de vídeos mostrando coisas que eu gostaria mas que talvez nunca tenha, imagina a galera mais nova que ainda está passando por transformações de caráter pessoal e intelectual. A pressão para se encaixar dentro de tudo isso é imensa e digo isso com conhecimento de causa pois lá atrás, mesmo sem Instagram, YouTube e Facebook, eu não era o cara descolado do colégio, pelo contrário, era excluído, quieto e sofria bullying.
Por isso esse é um assunto importante e não me venha com essa de “Nossa! Você é aquele tio chatão que só fica falando mal”. Se você conhece alguém ou está inserido dentro desse perfil do qual falei, não se iluda e não acredite em tudo o que vê por aí. Tem muita gente querendo suas curtidas e sua atenção mas que não está nem aí no que vai entregar de volta para você. Não estou falando de conteúdo e sim de um discurso coerente, verdadeiro, que vá além do “Bê a Bá”. E isso não é recalque do tipo “Ah não sou ‘famosinho’ igual esses caras, segue lá meu Instagram”, isso é a verdade.
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Talvez esse assunto não seja tão bem compreendido por esse galera. Tenho certeza que muita gente que vai ler esse texto e não vai entender a fundo o quão importante é cuidarmos de nós mesmos como pessoa. Valorizar toda essa superficialidade só vai te manter mais desconectado das pessoas que realmente importam na sua vida, sua família e seus amigos.
Não sou nenhum tipo de guru ou coach do assunto mas algumas dessas dicas podem te ajudar a lidar com tudo isso.
– Se cerque de pessoas boas, daquelas que queiram te ver bem de verdade. Gente falsa e interesseira é o que mais tem por aí.
– Tenha cuidado com o exagero nas curtidas e na busca por elas nas redes sociais. Você é muito mais do que números e comentários.
– Não mude sua essência somente para pertencer a um certo grupo. Você não precisa pensar igual a todo mundo só para entrar em um grupo, caso isso ocorra, repense se essas pessoas realmente se importam com você.
– Ter 500 tênis ou os 15 mais caros da StockX, com 13 anos de idade, não quer dizer absolutamente nada. Seja feliz com o que pode e o que tem. Gostar de tênis vai muito além de ter uma infinidade deles.
– Se vestir vai muito além de usar marca X ou Y. O jeito que você se veste tem que ser visto como uma forma de expressão pessoal, logo você não é obrigado a se encaixar em nenhum padrão. Da mesma forma que você não precisa ter Palace, Off-White, Anti Social Social Club pra dizer que gosta de streetwear.
– Quando adolescentes queremos tudo pra ontem e sentimos que quando não conseguimos somos um fracasso. Calma! Ninguém se torna referência e bem sucedido em alguma área do dia para a noite. Tempo, persistência, erros e acertos fazem parte desse processo. Tudo bem se você ainda não chegou lá, não se cobre tanto.
Espero que esse texto ajude vocês a enxergarem que somos muito mais do que nossos perfis virtuais e o quanto é necessário cuidarmos da nossa saúde mental. Afinal, ter roupas de marcas desejadas e os grails do momento não farão nenhuma diferença caso você não esteja feliz consigo mesmo.